terça-feira, 22 de dezembro de 2009

# Como Fazíamos Sem Mapas

Até o século 20, a solução era olhar as

estrelas e fazer cálculos

por Ernani Fagundes

Quem já rabiscou um mapinha para indicar um caminho repete um gesto tão antigo quanto a humanidade. "Uma das necessidades mais primordiais da comunicação é indicar um rio ou uma caverna", afirma Jorge Pimentel Cintra, professor de História da Cartografia da Universidade de São Paulo. Muitos desses desenhos devem ter se perdido; ainda assim, o primeiro mapa já visto é bem antigo. Ele surgiu no Egito, há 4 mil anos, e delimitava propriedades rurais.

Para áreas maiores, foi necessário recorrer à matemática e à astronomia. Conhecedores dessas duas ciências, os babilônios criaram um mapa-múndi, que mostra um círculo de terra rodeado por água e por corpos celestes. Depois, o grego Erastótenes (276-194 a.C.) acrescentou uma ferramenta útil para os cálculos: o conceito de latitude. Em Roma, no século 2, um livro de Marino de Tiro (60-130) e Cláudio Ptolomeu (87-150) dava as coordenadas de 8 mil locais. Mas os desenhos ainda não eram confiáveis.

No século 14, as grandes navegações deixaram os cartógrafos mais uma vez em alta. Os mapas eram caros, mas o investimento compensava. Foi com uma tabela de distâncias do matemático José Visinho que Bartolomeu Dias alcançou o cabo da Boa Esperança. Os desenhos eram atualizados com rapidez. Em 1502, dois anos após a descoberta do Brasil, o mapa de Cantino já exibia o novo território.
Mas ainda faltava exatidão. Começou assim a busca pelas longitudes do planeta. Em 1772, o britânico John Harrison (1693-1773) resolveu o problema com um relógio que sempre marcava a hora de um único meridiano. Um novo estágio começou há cinco décadas, com os satélites. No século 21, as imagens do planeta visto do espaço estão na tela de qualquer computador. E, em vez de rabiscar mapas, usamos aparelhos de GPS para nos localizar.

# Dos mapas ao GPS


O longo percurso da humanidade até aprender a se


locomover na Terra

por Fred Linardi

Por muitos séculos, os seres humanos não souberam se o mundo era redondo ou plano, não imaginaram seu tamanho e tiveram dificuldade para transmitir informações de distância e orientações de locomoção. Começamos a resolver esse problema com o primeiro aparato de orientação geográfica, o mapa. Para desenhá-lo, medíamos distâncias em terra e olhávamos para a posição dos astros no céu.

Na Antiguidade, já tínhamos faróis marítimos e dominávamos astronomia e matemática o suficiente para desenhar globos complexos. No século 16, os exploradores europeus alimentavam os cartógrafos com novidades em ritmo frenético. Quinhentos anos depois, o programa Google Earth, que une imagens de satélites a tecnologia GPS, deixa qualquer pedaço do mundo ao alcance de um clique. Com o pacote de ferramentas à disposição, hoje sabemos nos locomover com segurança em terra, por mar e nos céus do planeta.

A rota das coordenadas
Com o tempo, aplicamos ciência e tecnologia aos primeiros desenhos

6200 a.C. - Imagem misteriosa

Encontrado em 1963, o mapa de Catal Hyük, na atual Turquia, iniciou uma polêmica. O desenho parece retratar uma cidade com 80 edificações e um vulcão. Para muitos pesquisadores, este é o mapa mais antigo já encontrado. Para outros, a primazia ainda cabe aos egípcios, que desenhavam os seus 4 mil anos atrâs.

500 a.C. - Crônicas territoriais

Os gregos são mestres da cartografia. Destaque para os relatos e desenhos de Hecateu de Mileto, que viaja ao Mediterrâneo e à Eurásia para criar uma das primeiras obras de geografia. Chamada Ges Periodos, ela é composta por dois livros, Viagens pela Terra e Pesquisa sobre o Mundo.

350 a.C. - Posição no universo

O matemático grego Eudoxo de Cnidos apresenta um mapa do sistema solar, com planetas e astros esféricos concêntricos. Seus cálculos proporcionam um salto no conhecimento da localização dos astros e da posição da Terra no espaço.

Século 4 a.C. - Mecânica celeste

A produção de aparatos de orientação naval com base num globo começa na China, com os astrônomos Shi Shen e Gan De. A esfera amilar aponta a direção dos astros e funciona como um telescópio. No globo, já estão desenhados paralelos e meridianos.

1569 - O primeiro atlas

Um dos maiores feitos da história cartográfica é realizado por Gerhard Kremer, ou Gerardus Mercatus (1502-1594). Ele projeta o globo terrestre num plano de 18 folhas impressas e o batiza de Atlas em homenagem a um titã grego, condenado por Zeus a carregar um globo nas costas.

Século 16 - Esquadro para o mar

Surge o astrolábio marítimo. Trata-se de uma variação do astrolábio, que havia sido criado em torno do século 4 a.C. e que servia para medir a localização dos astros. A versão marítima surgiu na época das grandes navegações e era composta pelo alidade, um tipo de esquadro usado até hoje para medir ângulos verticais.

220 a.C. - Agulha magnética

Sem a bússola, o descobrimento das Américas seria impossível no século 14 - quando o aparelho, como o conhecemos hoje, foi inventado. No entanto, ela já existe na China no século 3 a.C. É introduzida na Europa por árabes e depois desenvolvida pelo marinheiro italiano Flavio Gioja.

1757 - Visão aparente

Além de ser um ótimo aparato para observar os astros, o sextante fornece o posicionamento global de marinheiros e mede distâncias a partir do tamanho aparente dos objetos. A base da busca fica na comparação entre o tamanho de um astro e seu reflexo no horizonte.

1817 - Giro certo

Baseado em um eixo fixo e uma esfera que gira, o giroscópio torna-se fundamental. Em 1895, o aparelho seria fundido à bússola. Surgia assim o girocompasso, usado em navios desde 1910. Hoje, identifica o posicionamento de aviões em parceria com o altímetro, uma invenção de 1924.

1993 - Você está aqui

Desenvolvidos nos anos 60 e disponibilizados para uso civil, satélites possibilitam a criação do Sistema de Posicionamento Global (GPS), que inicia uma nova fase da história dos instrumentos de orientação. Hoje, os motoristas acessam mapas na internet e se orientam com GPS em seus carros.