segunda-feira, 26 de outubro de 2009

# A crise financeira e econômica de 2008



Por Anselmo Lazaro Branco

No início do segundo semestre de 2008, o mundo capitalista conheceu uma séria crise financeira e econômica, iniciada, na verdade, nos EUA, em 2007. Os analistas econômicos, tanto do setor privado, como de governos de países e de organismos internacionais, classificavam a crise como a de maior gravidade, após a intensificação do processo de globalização, a partir dos anos 1970.

As causas da crise estão relacionadas à expressiva expansão dos financiamentos para compra de imóveis nos EUA, em razão dos juros baixos, que o governo dos EUA vinha mantendo desde o início do século. Isso gerou uma forte valorização no preço dos imóveis que, inclusive, estimulou os proprietários com financiamentos (mutuários) refinanciar as suas dívidas. Nesse refinanciamento, os mutuários recebiam uma diferença em dinheiro, em geral utilizada para consumir bens, enquanto o nível de poupança caiu acentuadamente. Diversos bancos criaram títulos1 que tinham como garantia os financiamentos para compra de imóveis (títulos garantidos com hipotecas). Investidores que adquiriram esses títulos emitiram, por sua vez, outros títulos que tinham como garantia os títulos anteriores. Isso se espalhou por todo o sistema financeiro.

No entanto, com consumo em alta, a inflação aumentou. Para frear esse aumento, o governo dos EUA aumentou os juros, que afetou também as mensalidades das casas: ficaram mais caras. Como conseqüência, centenas de milhares de proprietários deixaram de pagar os financiamentos, os preços dos imóveis despencaram e os títulos se desvalorizaram acentuadamente.

Em decorrência, houve quebra de bancos, cortes de empregos, desvalorização de empresas, os bancos reduziram a oferta de crédito, afetando toda a cadeia de consumo – com menos financiamentos para compra de bens, muitos consumidores ficam sem recursos para a compra de mercadorias. Com redução das vendas, muitas empresas ficam com capacidade de produção ociosa e demitem. É grande o número de empresas que, inclusive, antes mesmo de ter redução nas vendas, já passam a demitir, com pretexto de se preparar para a crise. Com demissões, há perda de renda dos assalariados, e menos compra de mercadorias. Nessa situação, os que estão empregados preferem poupar. Com isso, a crise se intensifica.
Em razão da forte integração entre as economias nacionais, no contexto da globalização e pelo fato de a crise ter surgido e afetado o país – EUA – que gera 1/5 do PIB mundial, os seus efeitos rapidamente foram sentidos em todo o mundo, em maior ou menor grau.

Os desdobramentos para a crise iniciada no segundo semestre de 2008, são incertos e dependiam também da eficácia das intervenções dos governos dos países, particularmente dos desenvolvidos. Esses elaboraram diversas estratégias de socorro a bancos e outras empresas. O governo dos EUA, inicialmente, já havia disponibilizado cerca de 700 bilhões de dólares para isso. Com quantias, evidentemente menores, governos de diversos países, inclusive subdesenvolvidos, criaram estratégias para minimizar os efeitos da crise financeira/econômica. Quanto à ajuda norte-americana, é preciso salientar que o endividamento do governo dos EUA já era elevadíssimo e o financiamento dessa dívida se faz com emissão de títulos por parte do próprio governo.

Por outro lado, a crise demonstra que a expansão do crédito e a ampliação desenfreada de modalidades de títulos sem fiscalização dos governos podem gerar riqueza aparente (fictícia, de certo modo, pois não tem garantia) e momentânea, mas é um grande risco para a economia, para a sociedade e para o próprio governo, que acaba arcando com os custos. Nessa situação, alguns lucraram muito (em geral, os que já têm muito) e todos acabam arcando com as conseqüências da crise, pois o dinheiro que o governo utiliza para socorrer bancos e empresas é obtido com a arrecadação dos impostos que a sociedade paga.

A livre circulação de capitais é um risco para a economia mundial. Com a crise, a desregulamentação do sistema financeiro internacional, um dos pilares do neoliberalismo, passou a ser fortemente questionada. A necessidade de uma fiscalização, de um controle mais rigoroso por parte dos governos, inclusive com cobrança de impostos mais elevados, é necessária, não só internamente, mas entre os países. Isso faria com que os governos tivessem mais recursos para investirem em saúde, educação, infra-estrutura, saneamento básico, etc.

Com efeito, é cada vez maior o volume de dinheiro aplicado nos bancos e nas bolsas de valores, sendo que boa parte dele circula ao redor do globo em busca de melhor retorno, de maior lucro. Se em 1980, o PIB mundial era de US$ 10 trilhões, o volume aplicado no mercado financeiro e de ações era de US$ 12 trilhões. Já em 2007, enquanto o PIB era de US$ 48 trilhões, os investimentos em títulos e ações atingiam US$ 167 trilhões. Com isso, as possibilidades de intensa especulação, de riscos e de crises são maiores.

1 Títulos: documentos por meio dos quais uma pessoa ou empresa, ou mesmo o Estado, torna-se proprietário de um bem ou de um valor. Podem ser uma garantia para quem emprestou dinheiro a outro ou uma forma de investir dinheiro para ter um retorno com juros.

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